terça-feira, 3 de novembro de 2015

Clube da Esquina



Porque se chamava moço 
Também se chamava estrada 
Viagem de ventania 
Nem lembra se olhou pra trás 
Ao primeiro passo, asso, asso 
Asso, asso, asso, asso, asso, asso 
Porque se chamavam homens 
Também se chamavam sonhos 
E sonhos não envelhecem 
Em meio a tantos gases lacrimogênios 
Ficam calmos, calmos 
Calmos, calmos, calmos... 
E lá se vai mais um dia... 

E basta contar compasso 
E basta contar consigo 
Que a chama não tem pavio 
De tudo se faz canção 
E o coração na curva 
De um rio, rio, rio, rio, rio 
E lá se vai... 
Mais um dia... 

E o rio de asfalto e gente 
Entorna pelas ladeiras 
Entope o meio-fio 
Esquina mais de um milhão 
Quero ver então a gente, gente 
Gente, gente, gente, gente, gente 
E lá se vai

Clube da Esquina é um álbum de Milton Nascimento que reúne o grupo de músicos que ficou conhecido como Clube da Esquina. O disco foi lançado em LP em 1978, CD em 1988 e caixa coletânea em 2007.
Milton fala sobre o Clube da Esquina - O lance do primeiro Clube foi o seguinte: no começo dos anos 70, fui a Belo Horizonte visitar a casa dos Borges. Encontrei o Lô chegando por ali e o convidei para ir comigo a um boteco. Pedi uma caipirinha para mim e um guaraná para ele. Mas Lô quis pedir também uma caipirinha. Olhei com uma cara de desaprovação - ele ainda era um menino. Lô começou a dizer que me adorava, que adorava a música que estava fazendo, minha voz, meu violão, mas que tinha uma grande tristeza: que a gente não gostava dele. Disse que saíamos pela noite e nunca o levávamos. Dividi a história da seguinte maneira: até a hora que Lô pediu aquela caipirinha, ele era uma criança. A partir daquele momento, saquei que ele tinha crescido. Essa outra fase da gente ia começar naquele momento. Nesse dia, ele me mostrou pedaços de músicas que vinha fazendo. Uma hora, sentou no chão e começou a tocar uma coisa que parecia um acompanhamento para uma música. O negócio era tão bonito que fechei os olhos, peguei outro violão e comecei a fazer uma melodia em cima. Ficamos umas três horas naquilo. Abri os olhos e vi o Marcio [Borges, irmão de Lô com um caderno na mão escrevendo uma letra. E a mãe deles, do lado da porta, chorando de emoção.Virou "Clube da Esquina", nossa primeira parceria e a primeira música completa dele. A letra falava da rapaziada que tocava na esquina da casa deles e também do pessoal que estava no Brasil sob aquela pressão da ditadura, procurando sua própria esquina. Já fazia muito tempo que não via o Lô, tem horas que ele desaparece. Estava morrendo de saudade e fui atrás dele. Marcio me disse que Lô estava no Rio de Janeiro e me levou à casa dele. Quando a porta abriu, ele estava sentado no chão, tocando violão. Eu disse: "Acabou a preguiça. Vamos fazer o Clube número 2". Essa idéia nasceu ali, naquela hora. Desta vez, decidi que ia reunir bastante gente e fazer um disco bem recheado.

Vamos ouvir essa obra prima: